segunda-feira, 18 de agosto de 2014

ainda sobre partir

E vai no passar das horas a sensação do "e agora?", jogada feito um "flit paralisante qualquer" nos meus olhos perplexos.
Notícias de lá, tudo bem, tudo indo, o tempo está instável, o alojamento é fofo, mas está vazando água do frigobar — indicativo precioso de que os frigobares são rebeldes, praticamente os blackblocks dos eletrodomésticos: não respeitam nada, nem mesmo as terras de Holanda, contrariando a nossa ideia tupiniquim de que nunca na história de Amsterdã um aparelho ousaria apresentar falha ao funcionar.
Gente, muita gente, de tudo quanto é canto — ela falou no
whatsapp, me mantendo informada dos primeiros passos. E também graças à tecnologia, já compartilhou a carteirinha de estudante onde se nota que primeiro nome, por lá, é bobagem: oficialmente, ela é M. Miss M, eu apelidei, achando engraçado.
Vencidos os primeiros momentos, o coração repousa apaziguado porque o avião decolou e aterrissou, porque ela já está na universidade, porque ela já está no alojamento, porque nada de terrível aconteceu nessas primeiras horas em que meu olhar protetor não estava ao alcance, espantando o mau-olhado, livrando-a de todo o mal, amém. Que eu sei, todo mundo sabe, que a vida é essa, assim, que os filhos vão e vem, que a vastidão do mundo é uma explosão, que em tese eles ficarão bem, que é preciso desatar o nó (que a gente fez apertado) no cordão umbilical imaginário — mas.
Mas, substantivo inventado para traduzir a loucura materna de achar que se estivermos perto, nenhum mal acometerá nossos filhos (e se ousar acometer, espantaremos o mal com vassouradas, baigon, benzedeira, ibuprofeno, voadora, o que preciso for). E o difícil dessa experiência é predominantemente esta impossibilidade de protegê-la dos males invisíveis aos quais a gente já se acostumou e dos males desconhecidos, em terras estranhas, que a gente teima em inventar.
Essa sensação, eu sei (eu espero), vai passar. Ou não vai, e eu vou ter que conviver com ela todo santo dia, nos próximos 363. Alguma coisa vai sobrar desse aprendizado, nem que seja: não gostei nada, não quero a experiência outra vez.
That I would be good.




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